O Rio Grande do Norte vive uma situação cada vez mais
dramática do ponto de vista fiscal: mesmo após elevar a alíquota do ICMS e
aumentar sua arrecadação, o Estado permanece com o orçamento estrangulado por
uma estrutura de gastos insustentável.
Nesta semana, mais um dado estarrecedor foi divulgado: segundo o
Tesouro Nacional, o RN segue com o maior nível do Brasil de despesa com pessoal
em relação à receita corrente líquida.
O resultado é devastador: enquanto outros estados
conseguem planejar investimentos estratégicos com recursos próprios, o Rio
Grande do Norte precisa recorrer a empréstimos até mesmo para o básico, como a
manutenção de estradas.
Ou seja: o contribuinte paga mais impostos para ver o Estado
se endividar mais. E detalhe: só consegue acessar esses financiamentos em razão
da boa vontade do Governo Federal, que abre brechas na lei e dá aval às
transações financeiras.
Estudo realizado pela Fecomércio durante a discussão sobre o
aumento do ICMS mostrou que o RN usa apenas cerca de 2% de sua receita para
investimento. O restante está comprometido com folha e custeio. Na Paraíba, o
índice de investimento público está em 13%.
Até o custeio de áreas essenciais sofre com o arrocho no
orçamento. A saúde atualmente leva 12,5% da receita do Estado. O próprio
secretário da área, Alexandre Motta, já sinalizou que o ideal seria elevar esse
índice para 14,5%. Mas como? Tirando de onde?
O atual caminho trilhado pelo RN leva a um destino conhecido
— a insolvência fiscal.
Mesmo que o nível de despesa com pessoal tenha caído no
último quadrimestre (55,73% este ano, contra 58,26% no mesmo período do ano
passado), ainda estamos longe do ideal. Para se ter uma ideia, além de estar no
topo do ranking dos gastos, o RN é o único estado do País que ultrapassa o
limite previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (49%).
Corrigir esse problema é uma tarefa inadiável e que exige
decisões nem sempre populares ou agradáveis, mas extremamente necessárias.
A solução passa, objetivamente, pela revisão de benefícios
concedidos a categorias de servidores. É inconcebível e insustentável que a
despesa com pessoal cresça num ritmo tão intenso quanto o da arrecadação (ou
até mais). Esforços de aumento de receita, com maior contribuição da sociedade,
acabam invalidados por mais gasto com folha.
Um exemplo é a educação. Desde 2019, professores da rede
estadual conquistaram reajustes que, acumulados, se aproximam de 100%. Trata-se
de uma categoria essencial e merecedora de valorização, mas o reajuste extraordinário,
concedido muito acima da média nacional e da inflação acumulada, é incompatível
com a realidade fiscal do Estado.
Na segurança, já são 19 mil promoções de militares. Mais
pressão sobre o orçamento.
Na Previdência, outro nó. O Rio Grande do Norte possui um dos
maiores déficits do Brasil. Segundo o Tesouro, o RN tem a 6ª maior proporção de
gastos com inativos sobre a folha total e lidera esse ranking no Nordeste. O
rombo mensal chega a R$ 150 milhões — dinheiro que sai diretamente do Tesouro Estadual,
desidratando áreas como saúde, segurança e infraestrutura.
Não é exagero dizer que o Estado está pagando o passado com o
presente, comprometendo o futuro.
Reduzir o comprometimento da receita com pessoal, para
descomprimir o orçamento, exige coragem política. Envolve revisar planos de
carreira, repensar promoções automáticas e adequar a previdência estadual à
realidade. As mudanças, claro, só podem valer para novos servidores. Direitos
adquiridos devem ser preservados, para o bem da tão propalada segurança
jurídica. Mas a mudança para o futuro é urgente. Sob pena de falta de dinheiro
para pagar o básico, como salários.
Na outra ponta, o Estado precisa ter maior agressividade
institucional para atração de novos empreendimentos e investimentos privados –
que farão a economia circular e injetarão mais recursos nos cofres públicos,
através de impostos. O Estado já está na vanguarda em áreas como energias
renováveis e atração de indústrias (com o novo Proedi), mas a realidade crítica
das contas públicas exige mais ousadia. O protagonismo técnico precisa se
transformar em liderança econômica. E isso passa, por exemplo, pela
urgentíssima modernização da legislação sobre licenciamentos ambientais – em
discussão há anos, com pouca evolução.
Persistir na trajetória atual é condenar o Rio Grande do
Norte a uma lenta agonia fiscal. Não haverá futuro possível enquanto o Estado
gastar mais com folha de pagamento e aposentadorias do que com saúde,
segurança, infraestrutura e desenvolvimento econômico somados.
É hora de dizer com todas as letras: sem reforma da máquina
pública, não haverá crescimento. Sem dinamização da economia real, não haverá
justiça social. O Rio Grande do Norte precisa escolher entre o passado que
consome e o futuro que constrói. Essa escolha não é ideológica — é
civilizatória.
AgoraRN
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