Diziam que a imprensa havia morrido. Que jornais, livros
e revistas eram velharias, e que o futuro pertencia às redes sociais — essa
babel digital onde cada um grita o que pensa, sem jamais pensar no que grita. O
resultado está aí: um mundo onde todos falam e ninguém escuta, onde o idiota
ganha a mesma tribuna que o sábio, e o ruído toma o lugar da razão.
As redes sociais, essas grandes praças eletrônicas, não
libertaram o homem moderno. Escravizaram-no. Tornaram-no servo de algoritmos
invisíveis que decidem o que ele deve ver, odiar e desejar. Criaram uma nova
forma de censura: a do excesso. Não é preciso calar ninguém quando se pode
afogar todos em barulho.
As redes sociais e a morte da inteligência humana - Foto:
Freepik
Antigamente, o jornal — assim como o livro e a revista —
exigia do leitor esforço: ler, interpretar, duvidar. Hoje, basta deslizar o
dedo. A preguiça virou método, a superficialidade, virtude. O raciocínio foi
substituído pela reação. O coração bate mais rápido com um “like” do que com
uma ideia. E o pensamento morreu de tédio, soterrado sob filtros, selfies e
dancinhas de quinze segundos.
As redes sociais vendem liberdade, mas entregam vício.
Alimentam-se do que há de mais primitivo no ser humano: o desejo de aprovação.
Transformaram o “eu penso” em “eu apareço”. Cada curtida é um grão de dopamina;
cada comentário, uma dose de egoína. E assim seguimos, felizes e anestesiados,
trocando neurônios por notificações.
Nada é mais perigoso que um povo dopado por distrações.
Quando tudo é espetáculo, a verdade perde valor. As mentiras correm mais rápido
que os fatos, e o debate público se transforma em arena de gladiadores
digitais. A razão cede lugar à histeria; a democracia se dissolve em posts de
indignação fabricada.
O que restará, quando toda opinião for algoritmo e toda
emoção, produto? Restará a saudade do silêncio. O tempo em que se lia antes de
opinar e se pensava antes de postar. Restarão os jornais, os livros e as
revistas — velhos cavalos de batalha da verdade e do pensamento — que ainda
exigem papel, tinta e cérebro.
As redes sociais prometeram um mundo conectado e nos
entregaram uma multidão desconexa. Prometeram dar voz a todos — e calaram o
pensamento. A internet tornou-se o espelho de Narciso: todos se olham, ninguém
se enxerga.
AgoraRN
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