O Rio Grande do Norte arrecadou cerca de R$ 28,5 bilhões em impostos entre 1º de janeiro de 2025 e a tarde desta terça (30), segundo a plataforma digital Impostômetro. A arrecadação do RN representa 0,64% do total arrecadado no País, que por sua vez somou um montante de R$ 3,97 trilhões. Nesse período, a capital potiguar arrecadou cerca de R$ 1,12 bilhão.A
Para o cálculo
por estado, a ferramenta considera a soma das arrecadações dos tributos
federais, estaduais e municipais. No cálculo nacional, estão inclusos os
impostos, as taxas e as contribuições, incluindo as multas, juros e correção
monetária, nas três esferas de governo. A plataforma usa dados de diversos
órgãos federais, estaduais e da Secretaria do Tesouro Nacional (STN).
O economista
Thales Penha explica que o ICMS é o principal imposto arrecadado no RN. “A
arrecadação própria do Rio Grande do Norte se sustenta basicamente em ICMS,
IPVA e outras taxas. Mas cerca de 90% de toda a arrecadação de tributos vêm do
ICMS, em setores como produção de energia elétrica, combustível e consumo”,
afirma o professor do Departamento de Economia da UFRN.
Segundo ele, o
valor arrecadado nacionalmente pode causar espanto, mas, considerando a
proporção com o Produto Interno Bruto (PIB), os R$ 3,97 trilhões representam
cerca de 33% PIB, proporção próxima à média dos países em desenvolvimento. “O
Brasil não é o país que mais tributa no mundo. Diversos países tributam mais do
que o Brasil em proporção do PIB”, afirma.
Para Igor
Medeiros, advogado especialista em Direito Tributário, é preciso haver um
equilíbrio entre a arrecadação de impostos e as prioridades do poder público.
De acordo com ele, o comprometimento do RN com o funcionalismo público é uma
das razões para os números expressivos na arrecadação potiguar. Diante desse
cenário, sobram poucos recursos para investimentos em obras estruturantes.
O professor
Thales Penha pontua que o funcionalismo público movimenta o PIB do Rio Grande
do Norte pelo consumo, aumentando a arrecadação de ICMS.
Já o advogado
Igor Medeiros observa que o setor informal e desvios como a sonegação de
impostos provocam aumentos na tributação do setor formal. “Quando nos deparamos
com situações em que uns trabalham e pagam tributos e o outro vizinho trabalha
e não paga tributo, a gente vê um descompasso”, afirma, sobre a diferença entre
o setor formal e a informalidade.
Thales Penha
concorda que a informalidade tem efeito sobre os impostos. “Isso diminui
bastante do ponto de vista arrecadatório para o Estado, com a questão da nota
fiscal do CPF e a fiscalização”. Ele destaca que a isenção fiscal também
contribui para um desequilíbrio no sistema tributário.
“Por exemplo,
empresas que deveriam pagar 20% de ICMS pagam zero, porque estão categorizadas
dentro do programa de incentivo ao desenvolvimento industrial […] Tem uma
renúncia tão grande que tem uma perda arrecadatória, em que você tem a
contrapartida de aumentar a alíquota tributária para compensar essa perda”, diz
Penha.
Efeitos dos
tributos na sociedade
Segundo Thales
Penha, os ipostos são um mecanismo que o poder público tem de oferecer serviços
que não podem ser oferecidos pelo setor privado. “Diversos setores precisam do
setor público para se desenvolver. E, para o setor público financiar isso,
precisa de um orçamento, que só pode vir através da contribuição”.
Segundo o
especialista, os efeitos da tributação são diferentes entre os cidadãos,
considerando suas diferenças – a exemplo da renda. Ainda de acordo com ele, a
literatura econômica enumera alguns princípios de que o sistema tributário
deveria dispor, sendo um deles a equidade: “pessoas iguais ou empresas iguais
devem ser tributadas de maneiras iguais; e pessoas diferentes têm que ser
tributadas de maneira diferente, obedecendo o que a gente chama de capacidade
contributiva”, diz Penha.
Mas, conforme o
economista, o exemplo do Brasil é peculiar: quem ganha mais, paga em média
menos imposto de renda do que a classe média. “Por isso que no Brasil a gente
tem a sensação de que se paga muito mais imposto do que realmente se paga, porque
apenas uma pequena parcela da população paga muito imposto”.
Setor
produtivo
Para a
empreendedora Daniele Brandão, os impostos pagos retornam em forma de
benefícios para a sociedade, embora ela considere que a tributação é crescente
no país. “Até certo ponto, dá para a gente pagar, porque realmente tem um
retorno. Mas, hoje em dia, o imposto está alto”, diz. Segundo ela, os altos
impostos prejudicam empresários e limitam a geração de empregos.
José Domingos da
Silva, que empreende há 21 anos, sente que os impostos não aumentaram muito ao
longo do tempo. Ele avalia, no entanto, que o retorno esperado – a melhoria dos
serviços públicos – é pouco perceptível. “Pelos impostos que nós pagamos, era
para ser tudo muito melhor”, afirma. “Eu não acho indevido o imposto. Eu só
acho que nós não temos um retorno desses impostos”.
Para a Federação
do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio Grande do Norte
(Fecomércio-RN), os setores de comércio e serviços foram impactados por um
“patamar elevado de carga tributária” ao longo de 2025. O presidente da
entidade, Marcelo Queiroz, lembra que a carga tributária bruta no Brasil
alcançou aproximadamente 32,3% do PIB em 2024.
“Isso reflete o
peso cada vez maior de tributos sobre a economia nacional e significa que um
terço de toda a riqueza produzida no país foi capturado em forma de impostos,
contribuições e taxas pelas três esferas de governo”, diz Queiroz.
Tribuna do Norte.
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