A discussão sobre anistia no cenário político potiguar
ganhou contornos que ultrapassam o debate jurídico e alcançam a arena da
coerência — ou da falta dela. Quando se fala em conceder anistia à vereadora
Brisa Bracchi, mas se nega o mesmo benefício a outros parlamentares punidos em
circunstâncias semelhantes, instala-se um problema que corrói a credibilidade
das instituições e fere o princípio mais básico do Estado democrático:
igualdade de tratamento.
Não se trata de defender ou condenar Brisa. Trata-se de
questionar por que alguns têm direito ao perdão político, enquanto outros
permanecem com a marca da punição. Se a anistia é um instrumento excepcional
para corrigir excessos ou injustiças, ela deve valer para todos os atingidos —
e não apenas para quem está politicamente alinhado ao grupo momentaneamente
mais influente.
Usar a anistia como ferramenta seletiva, moldada conforme
conveniências e simpatias ideológicas, transforma o sistema legislativo em palco
de favorecimentos. Mais grave ainda: institucionaliza dois pesos e duas
medidas. Hoje beneficia um lado; amanhã pode punir o outro com a mesma
arbitrariedade.
Se o objetivo é reparar danos, corrigir exageros ou
restaurar a legitimidade de processos duvidosos, então que se faça de forma
ampla e transparente. Anistia não pode ser prêmio. Tampouco pode ser arma. Ou
ela vale para todos — ou se torna injusta por natureza.
O debate não é sobre Brisa. É sobre o Brasil que
queremos: um país em que a lei vale para todos ou um país onde a balança da
justiça pende sempre para o lado preferido do momento.
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