O Rio Grande do Norte acumula duas décadas de crescimento
econômico abaixo das média nacional e nordestina. Enquanto vizinhos como Ceará
e Piauí se reinventaram, diversificando suas matrizes produtivas e investindo
em logística, inovação e educação, o RN estacionou em um modelo de baixo
dinamismo, dependente de comércio e serviços de pouco valor agregado. Essa
realidade não é fruto de fatalidade, mas de escolhas políticas, prioridades
equivocadas e incapacidade de estruturar um projeto de desenvolvimento sustentável.
Os números não deixam dúvidas: desde 2002, o PIB potiguar
cresceu em média 1,9% ao ano, uma das piores performances do Nordeste. A
participação do Estado no PIB nacional se mantém estagnada em 0,9%, enquanto
outros estados ampliaram seus espaços. A indústria local perdeu
competitividade, a agropecuária permaneceu restrita a nichos tradicionais e a
revolução da energia eólica, embora significativa, não criou encadeamentos
produtivos capazes de irradiar riqueza, já que a fabricação de componentes se
estabeleceu fora do território potiguar. O mesmo ocorreu com o petróleo, que
concentrou ganhos sem dinamizar cadeias internas de fornecedores e tecnologia.
A explicação para esse atraso está em fatores recorrentes: infraestrutura precária, entraves logísticos, projetos interrompidos e uma gestão pública marcada por limites fiscais e baixa capacidade de planejamento. O Porto de Natal continua insuficiente e sem integração ferroviária; estradas federais e estaduais acumulam deficiências; a ZPE prometida nunca se concretizou; iniciativas como o RN Sustentável (hoje Governo Cidadão) ficaram aquém do potencial. O resultado é que, em pleno século XXI, a economia potiguar continua limitada pela falta de bases sólidas para competir.
Mas não se trata apenas de obras ou equipamentos. A raiz
da estagnação está também na ausência de visão estratégica. O Ceará tornou-se
referência em educação e logística; o Piauí investiu em parcerias
público-privadas e inovação; Pernambuco modernizou seu parque industrial; até
Alagoas, historicamente dependente da cana, diversificou sua matriz. Enquanto
isso, o Rio Grande do Norte seguiu preso a disputas políticas imediatistas, com
pouca continuidade administrativa e visão de longo prazo.
Essa análise, contudo, não deve servir apenas para
lamentar. É preciso transformar o diagnóstico em agenda de futuro. O Estado
possui ativos valiosos: um litoral estratégico, potencial energético
incomparável, centros de pesquisa consolidados, uma fruticultura pujante e até
iniciativas no campo aeroespacial, como a Barreira do Inferno. O que falta é
conectar esses pontos em um projeto integrado, com prioridade para a formação
técnica de jovens, atração de investimentos industriais, modernização logística
e governança eficiente.
Reverter duas décadas de estagnação não será tarefa de um
governo apenas. Exige pacto federativo, convergência entre setor público e
privado, participação das universidades e, sobretudo, coragem de enfrentar
interesses estabelecidos. Implica reduzir despesas improdutivas, racionalizar a
máquina pública, modernizar marcos regulatórios e dar previsibilidade a
investidores. O que está em jogo não é apenas competitividade estatística, mas
a qualidade de vida de milhões de potiguares, cada vez mais limitados por um
mercado de trabalho restrito e por oportunidades que migram para outros
estados.
O editorial de hoje é um chamado à reflexão. Não se pode
aceitar como normal que o Rio Grande do Norte permaneça à margem do
desenvolvimento regional. A estagnação é a soma de escolhas passadas; o futuro,
no entanto, ainda pode ser moldado. É hora de reconhecer as oportunidades
perdidas e, finalmente, aprender com elas.
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