O juiz Airton Vieira, que auxiliou o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes na Corte entre 2018 e março de
2025, revelou sofrer pressões e alegou intromissão do magistrado em audiências
de custódia.
Em conversa com Eduardo Tagliaferro, ex-assessor-chefe da
Assessoria de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), o juiz diz que está: “perdendo completamente a higidez mental”.
A conversa escancara o ambiente de pressão dentro do STF,
em especial no gabinete de Moraes, que comanda investigações polêmicas e
concentradas como os inquéritos do 8 de janeiro, das Fake News e das milícias
digitais.
Vieira relata um desgaste físico, emocional e psicológico
intenso, provocado pela rotina no Supremo. O magistrado revela que chegou a
planejar seu retorno antecipado ao cargo de desembargador no Tribunal de
Justiça de São Paulo, mas recuou para não deixar o ministro “na mão”.
“Até depois, em questões de audiência de custódia,
sabe, ele vem dando palpite. Espera um pouco, né?”, reclama Vieira no
áudio obtido pelo Metrópoles, sugerindo uma interferência indevida do ministro
em decisões que deveriam ser técnicas e independentes.
O jornalista David Ágape, um dos responsáveis por
divulgar o “vaza toga 1 e 2”, afirmou nesta terça que Vieira deu
instruções de como “falsificar a origem de relatórios para justificar
prisões e proibições de conteúdo, coordenou a censura extraoficial e pediu a
criação de e-mails anônimos para aquecer denúncias”.
Ágape destacou que o magistrado reconheceu a “ilegalidade
do esquema e temia ser exposto” — o que acabou acontecendo. Em uma das
mensagens vazadas, enviada ao grupo de WhatsApp dos responsáveis pelas
audiências de custódia, Vieira ironizou sua saída:
“Despeço-me aqui, singelamente, pois nos demais grupos
já estou me despedindo… Que nas audiências de custódia possamos dar a cada um o
que lhe é de direito: a prisão!”.
Em um dos trechos mais graves, Vieira teria respondido a
preocupações de Tagliaferro — que questionava a falta de conteúdo incriminador
em um caso contra a Revista Oeste — com um incentivo direto à
fabricação de provas:
“Use sua criatividade… rsrsrs”.
Como mostrou o Diário do Poder, uma nova leva de documentos
vazados, trouxe à tona alegações que o STF usou ilegalmente postagens de redes
sociais para prender manifestantes e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL).
Segundo os documentos denominados “Arquivos do 8
de Janeiro”, uma força-tarefa de inteligência secreta foi formada com o
objetivo de identificar e manter presos manifestantes após a invasão dos
prédios dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023 – mesmo os
que não teriam cometido atos violentos.
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