O coronavírus, por enquanto, está ganhando a guerra. Já que é guerra, o Governo, oras, pôs na Saúde um general. O general se cercou de nove outros militares. Há as investigações sobre denúncias do ex-ministro Sergio Moro, há investigações sobre a organização de atos contrários à Constituição, em que se prega o fechamento do Congresso e do Supremo, há 30 pedidos de impeachment na Câmara.
As denúncias do antigo aliado Paulo Marinho, que se
afastou de Bolsonaro, têm pontos que podem ser verificados. O cerco ao
presidente se apertou tanto que, para manter a estabilidade, mergulhou de
cabeça no que chama de Velha Política: trocar cargos por votos do Centrão.
Contra Bolsonaro propriamente dito, há as denúncias de
Moro e os 30 pedidos de impeachment. Paulo Marinho atinge Flávio, o filho mais
velho. As investigações sobre os atos antidemocráticos podem alcançar Eduardo e
Carlos, outros dois filhos. Há ainda as notícias falsas, investigadas pelo STF.
O vídeo de uma reunião ministerial grosseira, com
insultos a ministros do Supremo e a governadores, confirmou as denúncias de
Moro e desmentiu Bolsonaro: sim, ele disse o que tinha dito que não disse. A
maior denúncia de Paulo Marinho, de que Flávio Bolsonaro lhe contou que haveria
operação da PF envolvendo pessoas próximas, cita reunião num lugar em que havia
câmeras de segurança. É algo que pode ser investigado – e está sendo.
Não se trata de uma gripezinha: é algo que arrisca a sobrevivência do Governo.
O vírus chapa-branca
Todos esses problemas estariam parados se Bolsonaro se
ocupasse com o combate ao coronavírus. Ao contrário: pôs na cabeça que fora da
cloroquina não há salvação e se comporta não como líder dos esforços para
conter a doença, mas como desmoralizador dos planos que vêm sendo aplicados.
Vai às ruas, faz comícios com gente aglomerada, leva sua própria filha pequena
para perto da aglomeração, já cansou de negar a importância do coronavírus e,
confrontado com o número de mortos, diz que não é coveiro.
Deu um tiro em cada pé em quatro ocasiões: negando a
pandemia, impondo um remédio que pode até, eventualmente, ser o correto, mas
que ele não tem condições de julgar, demitindo ministros e brigando com
governadores e prefeitos. O peso político do presidente é muito menor do que já
foi, embora grande o suficiente para evitar o impeachment. Mas já não tem
excesso para queimar.
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