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Bolsonaro recorre ao “toma lá, dá cá” ao buscar o ´Centrão`, criticam ex-aliados

Antigos aliados do presidente Jair Bolsonaro no PSL criticam sua recente aproximação com partidos do chamado Centrão e falam em retorno do “toma lá, dá cá”, prática duramente repudiada por ele desde a campanha eleitoral de 2018 que consiste na troca de cargos e liberação de recursos em troca de apoio político. Nas últimas semanas, o presidente tem recebido  dirigentes do PP, PL, Republicanos, PSD, MDB e DEM.

Na visão do senador Major Olimpio (PSL-SP), a aproximação com o Centrão é frontalmente contrária a toda a narrativa de campanha de Bolsonaro, o que tem enfurecido o eleitorado bolsonarista, segundo ele. Olimpio considera que o movimento do presidente representa um tropeço no próprio discurso.

“Eu não consigo entender o porquê disso, porque o presidente ficou um ano e cinco meses tendo vitórias e derrotas importantes no Congresso e nunca se abalou com isso. Eu vejo agora que perde muito o discurso, perde muita a consistência”, disse o senador.

Para o vice-líder do PSL na Câmara, Junior Bozzella (SP), o governo conseguiu fazer uma “aliança com o Centrão”, em referência ao nome da sigla que Bolsonaro pretende criar, Aliança pelo Brasil. Na visão dele, o alinhamento com os partidos do grupo é o ato derradeiro para o presidente.

“É um ato de desespero, uma flagrante demonstração da sua incompetência, da sua incapacidade política e demonstra que as suas reservas morais foram, todas elas, jogadas na lata do lixo”, disse Bozzella, para quem o presidente não é capaz de sustentar as próprias posições.

“Ele institucionalizou, oficializou o 'toma lá, dá cá' no Brasil de uma forma muito mais grave e obscena”, disse o deputado. Na opinião de Bozzella, num momento de crise, o presidente tem usado grandes estatais e autarquias como a Funasa para sustentar sua manutenção no poder. Para ele, foi entregue “a chave do cofre” a figuras da velha política que o presidente criticava no passado recente.

Deputado de primeiro mandato eleito na esteira do bolsonarismo, Bozzella é próximo do presidente nacional da sigla pela qual Bolsonaro se elegeu, o deputado federal Luciano Bivar.

Outro ex-aliado do presidente, o deputado Julian Lemos (PSL-PB) disse que as conversas com o Centrão se devem à “inabilidade política, petulância e arrogância” do governo. Segundo ele, o presidente perdeu sua essência e se desmoralizou.

“Agora temos uma aliança pelo Brasil, e ela já tem seu fundo eleitoral, Banco do Nordeste, Funasa entre outros, nesse momento o governo perde sua essência, o Centrão mostrou as vísceras de um governo que se auto desmoralizou”, disse Lemos, que é vice-presidente nacional do PSL, no Twitter.

A intensificação nas conversas com os partidos do Centrão é uma tentativa de Bolsonaro de construir uma base aliada no Congresso e não depender de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem uma grande influência sobre a pauta legislativa, e a quem o presidente disparou ataques na última semana.

Para Bozzella, o movimento se deve ao fato de Bolsonaro se preocupar com a reeleição e pela necessidade que tem de antagonizar com outros atores políticos. “Ele arruma um inimigo a cada instante, desde o primeiro dia do mandato foi assim. Qualquer pessoa que se apresente minimamente com um pouco mais de capacidade, que demonstre mais inteligência, mais luz própria ele já acha que é um potencial adversário. Ele só enxerga 2022, ele não enxerga outra coisa na frente. Bolsonaro está cego. É o poder pelo poder”, afirmou o deputado.

Por sua vez, Major Olimpio considera que a estratégia de aproximação com partidos do Centrão não é inteligente, pois, em um enfrentamento aberto de Bolsonaro com o presidente da Câmara, a esquerda e o PT fecham com Maia e garantem ao deputado a maioria dos votos. “Maia sabe a força que tem ali dentro da Câmara e ele usa isso com maestria”.

“Se é para fazer um enfrentamento com o Maia, eventualmente para tentar influenciar de forma mais efetiva na sucessão do Maia, eu acho que o tiro pode sair pela culatra”, avalia Olimpio.

Parte das redes bolsonaristas demonstra insatisfação com o ensaio da aliança com o Centrão. Um dos vídeos que circula entre eles mostra o então candidato Jair Bolsonaro prometendo que acabaria com o toma-lá-dá-cá.

Desde a eleição, Bolsonaro tem dito que a forma de relacionamento com o Congresso mudaria, com preferência para negociações via bancadas temáticas e sem troca de cargos em Ministérios e outros órgãos da administração federal. Desde então, ele tem tentado compor a base com parlamentares ligados à segurança pública, ao agronegócio e à igreja evangélica.

Radicalização

O presidente elevou a temperatura da crise política ao participar de um ato contra o Legislativo e o Judiciário e a favor de uma intervenção militar. O movimento foi amplamente criticado por governadores, ex-presidentes, pelo Congresso e pelos partidos dos mais variados espectros ideológicos. O movimento faz parte do que parlamentares e especialistas avaliam como estratégia de manutenção da base ideológica.

Ainda em fase de conversas e negociações, a aproximação com Bolsonaro vai depender do “tamanho da mordida” que o grupo de deputados quer dar, disse ao Congresso em Foco um deputado ligado ao governo e ao Centrão referindo-se à negociação com cargos.

Na visão dele, os congressistas viram na escalada da radicalização de Bolsonaro, que o isolou do presidente da Câmara e de ministros do STF, como uma oportunidade para negociar diretamente com o Planalto, sem intermediários.

Fonte: Flávia Said / Congresso em Foco


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