O equilíbrio entre os Poderes é um dos pilares da
democracia. Executivo, Legislativo e Judiciário devem atuar de forma harmônica
e independente, como prega a Constituição de 1988. No entanto, o que temos
assistido recentemente, é uma crescente concentração de protagonismo
político por parte do Supremo Tribunal Federal (STF), muitas vezes
ultrapassando os limites da interpretação constitucional para adentrar o campo
da legislação e até da gestão pública.
Enquanto isso, o Congresso Nacional — especialmente o
Senado Federal, que tem o dever constitucional de fiscalizar os ministros da
Suprema Corte — permanece em silêncio constrangedor. Pergunta-se: até quando?
Não se trata de atacar o Judiciário ou negar a
importância do STF como guardião da Constituição. Mas é preciso reconhecer que
há um desequilíbrio em curso. Decisões monocráticas que impactam a economia, a
política, as liberdades individuais e até mesmo a atuação de outros Poderes, tornaram-se rotineiras. Em muitos casos, essas decisões são tomadas sem o
devido debate no plenário do STF, e tampouco encontram resposta firme do
Parlamento.
O Senado tem a prerrogativa de abrir processos de
impeachment contra ministros que extrapolem suas funções, bem como de
convocá-los para prestar esclarecimentos. No entanto, essas atribuições
permanecem engavetadas, muitas vezes por conveniência política ou receio de
enfrentamento institucional. Ao se calar, o Congresso abdica de sua função e
enfraquece o sistema de freios e contrapesos que sustenta a democracia.
É legítimo que a sociedade questione: quem vigia os
vigilantes? O STF, que deveria zelar pelas regras do jogo democrático, não pode
ser árbitro e jogador ao mesmo tempo. O ativismo judicial — quando se torna
regra e não exceção — mina a autoridade do Legislativo e cria um perigoso
precedente para o futuro.
Cabe ao Congresso levantar a voz. Não com afronta ou revanche, mas com firmeza institucional. É hora de recuperar o respeito entre os Poderes, com base no diálogo, mas também na responsabilidade que cada um carrega. A democracia não sobrevive quando um dos seus pilares se impõe sobre os outros. E o silêncio do Legislativo pode, paradoxalmente, ser o mais barulhento dos gritos contra o equilíbrio democrático.
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