O anúncio feito por Donald Trump, de que pretende impor
um tarifaço de 50% sobre produtos importados, incluindo os do Brasil,
acendeu alertas em Brasília, no setor produtivo e entre especialistas em
comércio exterior. A medida, carregada de simbolismo político e motivada por
uma retórica eleitoral agressiva, reacende o debate sobre os rumos do
protecionismo global e seus efeitos para economias emergentes como a
brasileira.
Um impacto direto limitado, mas preocupante
Do ponto de vista econômico, o impacto pode ser relativamente
limitado. O Brasil não é um grande exportador de bens industrializados para
os EUA. As vendas estão concentradas em produtos como aço semiacabado,
celulose, carnes, café e alguns bens intermediários. Ainda assim, uma tarifa de
50% tornaria diversos desses produtos menos competitivos, podendo levar à perda
de contratos, suspensão de encomendas e desaceleração de setores importantes,
como o siderúrgico e o agroindustrial.
Por outro lado, os efeitos indiretos e estratégicos
são mais preocupantes. O tarifaço amplia a instabilidade no comércio
internacional, em um momento em que o Brasil busca atrair investimentos e
reindustrializar sua economia. Empresas globais que exportam via Brasil podem
reavaliar suas operações. Além disso, o gesto de Trump lança dúvidas sobre o
futuro da relação comercial entre os dois países, historicamente sólida e
baseada em regras previsíveis.
Reação política ainda é uma incógnita
No campo político a situação é bem mais sensível.
O governo brasileiro ainda avalia como reagir. Uma resposta agressiva pode
comprometer ainda mais o diálogo com Washington. Por outro lado, o silêncio ou
uma postura passiva podem ser interpretados internamente como fraqueza diante
de um ataque à soberania comercial do país.
Além disso, o tarifaço ocorre em um contexto geopolítico
em que o Brasil tem se aproximado de potências como China, Rússia e Índia,
dentro do bloco dos BRICS, e adotado um discurso mais autônomo em relação às
grandes potências ocidentais. A medida de Trump pode ser vista como uma
tentativa de enquadrar o Brasil dentro de um novo tabuleiro de alianças, com
consequências ainda imprevisíveis.
Um alerta para o futuro
Mais do que uma ação isolada, o anúncio do tarifaço deve
ser lido como um alerta sobre os rumos do comércio internacional. O
multilateralismo está enfraquecido, a OMC segue com sua autoridade comprometida
e grandes potências voltam a usar tarifas como armas políticas. Para o Brasil,
isso significa que depender de poucos mercados, ou de relações bilaterais
frágeis, pode ser arriscado.
A resposta não está em erguer novas barreiras, mas em reforçar
a competitividade interna, diversificar parceiros comerciais e defender com
firmeza, mas com inteligência diplomática, os interesses nacionais em fóruns
internacionais.
Conclusão
O tarifaço de Trump, embora ainda no campo das promessas,
traz consequências concretas para o Brasil: aumenta a incerteza, pressiona
setores exportadores e obriga o país a repensar sua inserção global. A melhor
reação será aquela que combine firmeza, estratégia e visão de longo prazo, sem
cair em armadilhas eleitorais ou reações impulsivas. O Brasil, neste novo
cenário global, precisa ser menos dependente e mais protagonista.
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