A última semana foi a pior para a Lava-Jato desde
que a operação foi deflagrada, há mais de três anos e meio. A reação dos
políticos, ensaiada fazia muito tempo e anunciada desde que Romero Jucá
(PMDB-RR) clamava por estancar a sangria, por fim se concretizou.
Essa contraofensiva só foi possível porque o Supremo
Tribunal Federal deu ao Congresso o impulso de coragem que faltava até agora.
Ao autorizar deputados e senadores a rever decisões judiciais contra seus
colegas acusados de corrupção, na prática chancelou que os políticos tomem as
medidas de autoproteção.
Os 44 votos a favor de Aécio Neves na terça-feira no
plenário do Senado e a maioria pró-Michel Temer na Comissão de Constituição de
Justiça da Câmara no dia seguinte têm o mesmo significado: não importam as
investigações da Lava-Jato, os áudios comprometedores, as malas de dinheiro, as
dezenas de delações; se depender dos políticos, e agora depende só deles,
ninguém será punido.
O movimento é amplo e pluripartidário: salvou Aécio,
salvará Temer. Se Luiz Inácio Lula da Silva estivesse nas mãos de seus pares, e
não nas de Sergio Moro, poderia dormir tranquilo na cobertura de São Bernardo.
É esse contexto de ataque escancarado à Lava-Jato, e não
mais dissimulado, que permite que Aécio, gravado aos palavrões com Joesley
Batista pedindo milhões de reais e brincando que mataria o operador se ele
fizesse delação, suba à tribuna do Senado para se dizer vítima de uma “ardilosa
armação”.
O clima mudou, e a vergonha e o temor dos políticos
diante das denúncias de corrupção deram lugar a um enfrentamento aberto. O pior
ainda está por vir. Já estava em andamento e agora começa a ganhar cada vez
mais força uma série de iniciativas que enterram de vez a Lava-Jato — como a
mudança no STF da decisão que determina a prisão após sentença em segunda
instância e regras em debate no Congresso para dificultar as delações. Nessa
nova realidade, aumentam as chances de que essas medidas que foram fundamentais
para o combate à corrupção sejam revertidas.
Aécio Neves está de volta ao Senado. Michel Temer fica
garantido na Presidência até o final do mandato. E Lula tenta pavimentar sua
volta ao poder. Enquanto a Lava-Jato agoniza, seus principais alvos se
fortalecem.
Fonte: O Globo.
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