A Life Tecnologia Educacional, empresa de materiais
didáticos, fechou contratos de R$ 111 milhões com as prefeituras de Sumaré,
Hortolândia, Morungaba e Limeira, no interior de São Paulo, e em alguns casos
vendeu livros escolares até 35 vezes mais caro do que pagou.
O dono da empresa, André Gonçalves Mariano, foi preso na
quinta-feira, 13, na Operação Coffee Break por suspeita de corrupção. Procurada
pelo Estadão, a defesa não se manifestou.
A Polícia Federal afirma ter encontrado indícios de
pagamento de propinas a agentes públicos e a lobistas com influência política,
entre eles uma ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-sócio do
filho do petista.
Também foram presos o vice-prefeito de Hortolândia, Cafu
César, o secretário de Educação da cidade, Fernando Gomes de Moraes, o
secretário de Educação de Sumaré, José Aparecido Ribeiro Marin, e dois
doleiros.
O advogado Ralph Tórtima Filho, que representa Cafu,
informou que pediu acesso às investigações para se manifestar.
A Polícia Federal afirma que a Life Educacional teve um
lucro “exorbitante” com as licitações. “O superfaturamento é evidente“, diz a
investigação.
Os investigadores encontraram um padrão nos contratos: a
empresa comprou livros por R$ 1 a R$ 5 e revendeu para as prefeituras por até
R$ 80 cada.
Em um dos contratos, em dezembro de 2021, a Life
Educacional vendeu 2.264 unidades do livro A garota que queria mudar o mundo
por R$ 41,50. Os exemplares foram comprados por R$ 2,56 cada, ou seja, o preço
de revenda foi 16 vezes maior do que o de compra. Além disso, a empresa só
comprou os livros dois dias depois de efetivar a venda ao município.
“O que se conclui da análise ‘fria’ das notas fiscais é
que a Life Tecnologia teria lucrado pelo menos 50 milhões de reais com a venda
de livros a essas prefeituras”, sintetiza a PF no relatório da investigação.
A Polícia Federal afirma que a empresa “nunca demonstrou
ter porte para o volume financeiro dos contratos”.
Os contratos teriam sido obtidos a partir do
direcionamento de licitações em conluio com agentes públicos no que a PF
descreve como uma “rede complexa” de corrupção, fraudes e tráfico de
influência.
“Mariano mantém uma ampla rede de contatos, que se
espalha por um grande número de municípios paulistas, alcançando também outros
Estados”, detalha a PF.
A investigação aponta que o empresário estaria buscando
contatos para articular contratações com outras prefeituras, órgãos públicos,
como a Petrobras e o Denatran, e até com outros países, como Angola, em uma
tentativa de expandir o esquema.
Blog Fausto Macedo – Estadão Conteúdo