Desviar o foco das atenções. Essa foi, para muitos, a motivação do Governo Bolsonaro ao confirmar a realização emergencial da Copa América 2021 no Brasil. Em meio à terceira onda da covid-19, as revelações da CPI da Pandemia e a perda de popularidade, autorizar o torneio no país poderia ofuscar as crises vividas pelo presidente.
Passados 30 dias, é seguro dizer que não deu certo. Os jogos aconteceram, o Brasil goleou, Messi deu show mas os principais assuntos do país são dominados por novas acusações de corrupção na compra de vacinas ao invés do torneio sul-americano, até o campeonato disputado em outro continente, a Eurocopa, tem tido melhor repercussão e audiência.
Segundo José Paulo Florenzano, antropólogo do esporte e professor da PUC-SP, o “tiro na água” é explicado por uma seleção descredibilizada e por uma interpretação bolsonarista simplista que classifica o futebol como “ópio do povo”.
Para
piorar, já foram confirmados 198 casos de covid-19 ligados à realização da
competição, segundo o último balanço da Confederação Sul-Americana de Futebol
(Conmebol), sendo 57 deles entre atletas e membros de comissão técnicas.
“Eu concordo que Bolsonaro quis usar a Copa América como uma cortina de fumaça. Com essa atitude, ele reedita a estratégia do Governo militar de considerar o futebol o ‘ópio do povo’. Mas é um delírio achar que o esporte tem esse poder mágico de anestesiar a sociedade da forma que o Governo pensa”, opina Florenzano.
Na visão do pesquisador, um torneio entre seleções sul-americanas
não é capaz de abafar as simultâneas crises sanitária, econômica e política do
país, ainda mais com tantas denúncias de corrupção surgindo toda semana através
da CPI. “O futebol é uma trincheira política importante para o
regime em questão, mas a alienação não acontece de forma tão banal. A Copa
América não é capaz de distrair a população de problemas tão relevantes”,
afirma ele.
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