Volta e meia a
polêmica ressurge e o forró como carro chefe nos grandes festejos juninos, fica
por vezes, relegado ao segundo plano. Percebemos que tradicionalmente, os
festejos juninos possuem uma característica voltada para o forró, e são
celebrados com danças e comidas típicas, bem como trajes e decorações caipiras
e o forró nordestino tradicional que deu origem a essa grande festa popular do
Brasil, e em especial da região Nordeste.
Os festejos
juninos são comemorados em todo o país, mas foi no Nordeste que se tornaram uma
grande tradição, especificamente na zona rural com a matutada dançando um
autêntico forró pé de serra num chão batido embaixo de uma latada de sapé, ao
som do Trio Nordestino, Luiz Gonzaga,
Assisão dentre tantos renomados artistas regionais.
A canção “Olha Pro Céu”, composta por Luiz Gonzaga e José Fernandes, traz uma
mensagem lírico-poética da verdadeira festa junina:
Olha pro céu,
meu amor
Vê como ele
está lindo
Olha praquele
balão multicor
Como no céu
vai sumindo
Imortalizada
pelo “Trio Nordestino” a
canção “Chililique”, composta
por J. B. Aquino e João Silva mostra
o autêntico forró nordestino:
“O maior
forró pelo que eu ouvir dizer
É na praia da
ilha, você pode crer
Que as dez da
noite, o forró já tá de pé
Sanfoneiro
abre a sanfona e só se vê chegá mulher
Há que se ressaltar que a festança junina transcendeu os limites rurais e adentrou às grandes cidades, onde se aglomeram milhares de pessoas. Destacando-se Caruaru em Pernambuco, Campina Grande na Paraíba, Mossoró no RN, como os principais polos de apresentação. Ocorre que, em detrimento da cultura regional, surge um espírito comercial e, sendo assim, a festa de São João é ameaçada de perder sua identidade.
Ritmos como o
pancadão, axé music, sertanejo universitário, brega, pagode, e em alguns casos
bandas e cantores descontextualizados e sem conteúdos, denegrindo a imagem da mulher,
incitando a diversidades sexual, e frases de baixa calão, dentre tantos outras
coisas obscenas, vêm ocupando um espaço nas festas juninas que tradicionalmente
era ocupado pelo forró, o que tem sido constantemente motivo de protesto por
diversos artistas regionais das raízes forrozeiras e o público que defende a
preservação dessa identidade cultura das festas juninas .
No ano de 2017,
um manifesto político-cultural assinado por diversos artistas renomados apontou
uma desproporcionalidade, em que artistas regionais que expressam o autêntico
forró pé de serra foram preteridos diante de outros ritmos já citados. O poeta Bráulio Tavares foi de uma sensibilidade
ímpar ao escrever este poema:
"Deixe o batuque do axé
pro carnaval da
Bahia
e a insana
pornografia
não troque no
arrasta-pé.
Rapariga e
cabaré?
Em nenhuma
ocasião.
E o forró da
ostentação
Reinando o falso
interesse?
Não faça um
negócio desse,
Deixe junho pro
São João.
Pelo menos uma vez
Esqueça Michel
Teló
E deixe eu
dançar forró
Os trinta dias
do mês.
Um disco de
Marinês,
O gogó de
Assisão
E o nosso Rei do
Baião,
Cantando Zé
Marcolino,
Só esse mês é
junino,
Deixe junho pro
São João.
Com seu povo tenha zelo,
Respeite nossa
raiz,
Não ouça o
cantor que diz
Que o melhor é o
desmantelo.
Deixe a escova
do cabelo
De Wesley
Safadão
Pro Programa do
Faustão
Que aqui é outra
lisura,
Não mate nossa
cultura,
Deixe junho pro
São João.
Deixe a tal da muriçoca
Se enganchar no
mosqueteiro,
Contrate Alcimar
Monteiro
Que nossa música
toca.
Deixe o funk
carioca
Tremendo seu
paredão
Pra quando uma
guarnição
Passar baixando
o volume,
Perca esse fútil
costume,
Deixe junho pro
São João.
Nós
precisamos parar
A
superficialidade,
Pois cultura de
verdade,
Jamais pode se
apagar.
É triste se
constatar
Essa covarde
inversão,
E o povo sem ter
noção
Do próprio valor
que tem:
Faça a você esse
bem:
Deixe junho pro São João”.
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