A proposta do Governo do Rio Grande do Norte de repassar
parte dos custos com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para os
municípios tem preocupado as prefeituras. De acordo com a presidente do
Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do RN (Cosems-RN), Maria Elisa
Garcia, embora a entidade não seja contra a expansão do serviço, há uma
sobrecarga das cidades com a assistência em saúde. A avaliação foi repassada
durante entrevista à Jovem Pan News Natal nesta terça-feira (19).
O debate sobre o cofinanciamento do SAMU pelos municípios teve início após o Rio Grande do Norte ser contemplado com novas ambulâncias por meio do Novo PAC em junho deste ano. De acordo com o Governo Federal, responsável pelo programa, a entrega representa um investimento de R$ 48,5 milhões, com o objetivo de renovar a frota e ampliar a capacidade de resposta no atendimento de urgência no Estado.
A ideia é que 14 das 24 ambulâncias recebidas pelo Estado
sejam direcionadas aos municípios, mas com a proposta do governo de repassar
60% dos custos do serviço para as gestões municipais. A presidente do Cosems-RN
destaca, contudo, que a assistência do SAMU é dever do Estado e critica a
transferência de parte dessa responsabilidade para os municípios.
“O Estado recebeu 24 ambulâncias, sendo 14 para expansão.
Esse modelo de expansão é que vem nos trazendo uma certa preocupação, pois
coloca para os municípios 60% de custeio”, disse. Embora reuniões já tenham
sido realizadas entre o Cosems-RN e o Governo do Estado, completa Maria Elisa
Garcia, uma solução não foi alcançada.
De acordo com a presidente do Cosems-RN, mesmo sem
investir no SAMU, o comprometimento do orçamento dos municípios com a saúde já
se encontra acima do limite estabelecido por lei. Conforme a Constituição
Federal, os municípios devem aplicar, no mínimo, 15% dos recursos arrecadados
em ações e serviços públicos de saúde. Já aos estados cabe o investimento de,
no mínimo, 12%.
“Hoje os municípios já investem no mínimo de 20 a 35% na
área da saúde. Já o Estado do Rio Grande do Norte, entre os nove do Nordeste,
está em último lugar em investimentos em saúde, cumprindo com seus 12%. Então
essa diferença de investimentos é o que nos preocupa”, esclarece.
O percentual debatido de 60% dos custos para os
municípios, segundo Maria Elisa Garcia, foi consenso em um estudo realizado por
uma equipe técnica do Estado. Na proposta, ela explica que ficou estabelecido
que a expansão do SAMU custaria R$ 9 milhões, dos quais 60% seriam de
responsabilidade das prefeituras.
“Foi feito um estudo, um trabalho que não estamos
criticando, e foi apresentado nas Comissões Intergestoras das regiões [de
saúde]. Foi a partir disso que começaram as inquietações sobre como iremos
arcar com mais uma despesa”, completa a presidente do Cosems-RN.
O receio com a proposta se soma a outros problemas já
enfrentados pelos municípios na relação com o Governo do Estado. É o caso, por
exemplo, da falta de pagamento da Farmácia Básica. O programa busca garantir o
acesso gratuito a medicamentos essenciais por meio do SUS e funciona a partir
da cooperação entre União, estados e municípios.
Na prática, o governo federal repassa recursos aos
estados, que, por sua vez, devem dividir os valores com os municípios. O
problema, de acordo com Maria Elisa Garcia, é que o Governo do Estado não tem
cumprido o repasse de forma regular. O caso atualmente está judicializado. “A
gente tem de 2010 até 2024 judicializado e não estamos recebendo os recursos
como deveríamos”, afirma.
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