O fim de uma era política da América Latina foi selado
neste domingo (17/8), nas eleições presidenciais da Bolívia.
Há quase 20 anos no poder, o esquerdista Movimento ao
Socialismo (MAS) obteve uma derrota histórica nas urnas, de acordo com os
resultados preliminares do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) do país.
Completamente rachado entre os grupos políticos do
ex-presidente Evo Morales e do atual mandatário, Luis Arce, o partido obteve
3,2% dos votos com Eduardo del Castillo. O mais bem colocado candidato à
esquerda foi Andrónico Rodríguez, com 8,15%.
Assim, o inédito segundo turno no país andino será entre
o senador Rodrigo Paz Pereira (Partido Democrata Cristão) e o ex-presidente
Jorge "Tuto" Quiroga (Aliança Livre).
Considerado centrista, Paz Pereira obteve 32,08% dos
votos, contra 26,94% de Tuto, mais alinhado à direita conservadora. Os dois vão
se enfrentar em 19 de outubro.
Com o resultado, a Bolívia coloca fim ao ciclo
bem-sucedido do movimento liderado por Evo Morales e que causou transformações
profundas em um dos países mais pobres da América do Sul.
Na década de 2010, o país cresceu em média a 5% ao ano,
impulsionado pelos ganhos com a exportação de gás natural, especialmente ao
Brasil e à Argentina.
Mas esses anos de bonança acabaram, e a memória deles não
parece ser mais suficiente para os eleitores de 2025, que enfrentam crise
econômica com pico da inflação e falta de dólares.
É como se tivesse acontecido uma
"autodestruição", resume o jornalista e escritor boliviano Fernando
Molina, autor de livros como Las cuatro crisis. Historia económica
contemporánea de Bolivia (As quatro crises. História econômica contemporânea da
Bolívia).
"Essa divisão drástica entre os dois grupos foi como
uma pá de terra no caixão", diz.
De um lado, está Evo, nome mais importante da política
boliviana neste século. Ele pediu à população para votar branco ou nulo, como
um protesto por seu impedimento de concorrer a mais uma eleição, após decisão
do Tribunal Superior Eleitoral.
Evo foi eleito em 2005, fazendo história como primeiro
líder de origem indígena a chegar ao poder do país mais indígena da região. Foi
reeleito em 2009 e em 2014, após mudanças na Constituição permitirem sua
perpetuação no poder.
Nas eleições de 2019, após um referendo, Evo não poderia
concorrer a mais um mandato, algo revertido numa polêmica decisão posterior da
Justiça.
Ele chegou a ganhar a eleição contestada, mas deixou o
país após as Forças Armadas se voltarem contra seu governo. Seus apoiadores
sempre falaram em um golpe de Estado, que levou a senadora Jeanine Añez ao
poder por pouco menos de um ano - hoje, ela está condenada e presa.
Do outro lado do MAS, ficou o presidente Luis Arce,
candidato apoiado por Evo em 2020 e vencedor das eleições convocadas para
aquele ano. Três anos depois, os dois romperam de vez e, desde então, se
tornaram rivais que disputam a liderança do partido.
Veja mais aqui.
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