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Polarização entre Lula e Bolsonaro escancara contradições de partidos políticos

 

A polarização política que domina a eleição presidencial de 2022 — inviabilizando o crescimento de outras ideias que não às ligadas a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) — agrava um sério problema do atual sistema político brasileiro: as contradições nos apoios dados e coligações feitas pelos partidos.

Não é novidade que grupos de ideologias até opostas, rivais, se apoiem em momentos eleitorais no Brasil, visando apenas a vitória ou possibilidades maiores de governabilidade — deixando a população confusa e descrente da política. Entretanto, a polarização, que aponta para o eleitor apenas duas possibilidades definidas de projetos de governo, escancara a questão. É o que se vê, por exemplo, no caso do PSD, comandado por Gilberto Kassab.

Nacionalmente, a legenda se diz neutra, na disputa pelo Palácio do Planalto, mas no maior colégio eleitoral do país, São Paulo, apoia o candidato de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e no segundo maior, Minas Gerais, tem um candidato ao governo, Alexandre Kalil, recebendo o apoio de Lula. Ou ainda a situação do PROS, de Eurípedes de Macedo Júnior, que retirou a candidatura do coach Pablo Marçal para apoiar Lula, mas que, em Brasília, apoia a reeleição de Ibaneis Rocha (MDB), que, por sua vez, tem o apoio de Bolsonaro, mesmo ele sendo do mesmo partido de Simone Tebet (MDB), uma das maiores críticas do presidente durante a CPI da Covid-19 no Senado Federal.

Casos como esses são incontáveis por todo o Brasil. A própria chapa de Lula, com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) como seu vice, é um registro dessas contradições. Quando ainda fazia parte do PSDB, onde exercia grande força política, Alckmin protagonizou alguns dos principais embates contra Lula, com duras críticas a ele por suas gestões do país, sua posição política mais à esquerda e também pelos escândalos de corrupção registrados durante os governos do PT. Mas não apenas nisso.

A união PT-PSB também é contraditória e amarga 12 disputas por governos estaduais em que são rivais, à revelia da parceria nacional: Acre, Amazonas, Roraima, Tocantins, Ceará, Paraíba, Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e o Distrito Federal. A coligação conta com 15 Estados onde são aliados.

Por mais que Lula repita o discurso de que sua união com Alckmin é democrática e visa vencer a “barbárie”, a aproximação tem função eleitoreira de moderar o petista na visão dos eleitores do sudeste, onde certamente a eleição presidencial será decidida.

A base dessas contradições dos partidos políticos pode ser encontrada na própria legislação eleitoral brasileira, por favorecer a criação de muitos partidos, que acabam tendo posições ideológicas diferentes em cada Estado. Há quem defenda, inclusive, que uma reforma política no país deveria passar necessariamente por uma revisão dessa questão.

O MDB, por exemplo, é umas das maiores legendas do Brasil e, desde a redemocratização, sempre se aproxima de partidos e candidatos que possuem chances de vencer as eleições – independente de fazer sentido ideológico ou não. Para a cientista política Deysi Cioccari, apoios e coligações feitos dessa forma são responsáveis por afastar a população da política e por enfraquecer os partidos, diante também do fortalecimento das imagens individuais de alguns políticos com presença midiática robusta. “É tanto partido político que fica difícil colocar um movimento ideológico de cima para baixo. Os líderes em Brasília não conseguem acompanhar o que ocorre nos partidos em cada Estado. Fica muito complicado. É contraditório. Isso afasta o eleitor da política, porque o eleitor não entende. Em bom português, vira uma bagunça. Como não existe uma ideologia e são vários partidos políticos, cada personagem político em cada Estado apoia o que bem entender e o que achar que vai ganhar. E o eleitor fica confuso no meio dessa bagunça”, comenta.

De forma reducionista, a consequência é que a disputa deixa de ser entre direita ou esquerda na economia, conservadorismo ou progresso nos costumes, e passa a ficar centrada nas pessoas, personagens políticos.

Cada vez mais a população deixa de votar nos partidos ou nas ideias e passa a votar nos indivíduos, que o atual contexto social exige que tenham presença midiática robusta se quiserem ser bem votados. Esse é um dos elementos que explica, por exemplo, o fenômeno de crescimento de Jair Bolsonaro junto às massas de direita.

E o que explica também a corrida da equipe de Lula por torná-lo mais presente na redes. O mesmo fenômeno é o que faz com que pessoas vindas do entretenimento consigam conquistar cargos eletivos com certa vantagem, como o caso de Romário (PL-RJ), de Tiririca (PL-CE), Sergio Reis (Republicanos-SP), além do surgimento de diversos outros nomes, como os apresentadores de TV Datena e Luciano Huck, sondados por muitas legendas eleitorais.

Fonte: Jovem Pan

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