O Rio Grande do Norte é o estado do Nordeste mais afetado
pela estiagem, de acordo com a Ana (Agência Nacional de Águas). Somando a seca,
o desemprego e o aumento do preço dos alimentos, o resultado é o retorno a um
desumano quadro de pessoas que voltaram a passar fome e que só comem carne
quando encontram algum animal já agonizando, abatido de fraqueza. Antes, bois e
vacas encontrados nessa condição eram deixados para os cachorros ou urubus. O
relato foi feito pela jornalista Renata Moura em matéria especial para o
jornal Folha
de São Paulo, publicada nesta terça (7).
O Rio Grande do Norte não é o único a enfrentar essa situação.
Em Fortaleza e em Santa Catarina, ossos que antes eram doados, voltaram a ser
vendidos nos açougues e, no Rio de Janeiro, as cenas de famílias disputando
ossos de boi ligaram o sinal de alerta sobre a situação de miséria da população
no país.
Entre os relatos colhidos por Renata nas cidades de
Senador Elói de Souza e São Paulo do Potengi, alguns moradores disseram receber
por mês menos do que o preço de um botijão de gás. As famílias já não contam
mais com o Bolsa Família e a renda vem da agricultura, que não tem prosperado
diante do cenário de seca. Muitos têm sobrevivido com a doação de cestas
básicas pela igreja.
De acordo com a Secretaria de Estado do Trabalho,
Habitação e Assistência Social (Sethas), são mais de 1 milhão de pessoas em
situação de pobreza ou extrema pobreza, o equivalente a 38% da população
potiguar. Algumas famílias aguardam direito a uma renda mínima pelo Bolsa
Família, recentemente substituído pelo Auxílio Brasil, desde 2019. A titular da
Sethas, Iris Oliveira, lembrou na reportagem que o Brasil tinha saído do mapa
da fome em 2014, mas a situação começou a regredir em 2016, com o desmonte de
políticas públicas.
Conversando com funcionário de um supermercado de Elói de
Souza, Renata também constatou o aumento da procura por salsicha, ovos e
pelanca de carne de primeira, que o supermercado da de graça. Por vergonha da
situação de pobreza, muitos clientes pedem a gordura dizendo que é para o
cachorro.
Fim do Bolsa Família
Somente com o Bolsa Família, cujo último pagamento
ocorreu em outubro, o Rio Grande do Norte tinha o incremento mensal de R$ 7
milhões que iam para as mãos de 370 mil famílias de baixa renda. Com o
Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa, a promessa do governo federal é de
atender as famílias classificadas como em situação de pobreza desde que elas
tenham jovens com idade abaixo de 21 anos ou gestantes, além daquelas em
extrema pobreza. São famílias que têm renda de até R$ 89 por pessoa (pobreza
extrema) e até R$ 178 por pessoa (pobreza). Elas também precisam estar vinculadas
ao Cadastro Único dos Programas Sociais (CadÚnico) e ao Sistema Único de
Assistência Social (SUAS).
Apesar da mudança de grande impacto, poucas são as
informações divulgadas pelo governo federal sobre o Auxílio Brasil. Ainda não
se sabe, por exemplo, quantas pessoas serão beneficiadas com o programa. A
estimativa é que seja pago o valor de R$ 400 por família mensalmente e que a
primeira parcela do auxílio seja paga ainda em dezembro de 2021.
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