Olho D'água do Borges/RN -

Bolsonaro, o réu confesso

 

A inflação atinge a casa dos dois dígitos. O desemprego a de 15 milhões de pessoas. Há grupos de brasileiros que desenvolveram métodos de burlar o compactador das caçambas dos caminhões de lixo para buscar ali alimentos. Outros disputam ossos nas portas dos açougues. Há fome em meio a 600 mil mortos pela covid-19. Então, o que faz o presidente Jair Bolsonaro em meio a todo esse quadro? Quando mais da metade da população brasileira já se imunizou, ele ataca as vacinas afirmando de forma totalmente falsa que elas podem provocar Aids.

Como vimos na sessão que aprovou o relatório da CPI da Covid, a tropa de choque bolsonarista fez ali o seu papel de defender Bolsonaro das acusações contra ele. Mas a verdade, cá entre nós, a maioria deles talvez não tenha assim tenta convicção quanto ao que falou em defesa do presidente. Porque as coisas que estão escritas no relatório da CPI da Covid são todas confirmadas pelo comportamento do presidente Jair Bolsonaro.

Às vésperas de receber a acusação de que cometeu crime contra a humanidade, Bolsonaro associa na sua live de quinta-feira da semana passada as vacinas contra a covid-19 à Aids. A argumentação feita no relatório da CPI para imputar ao presidente esse grave crime, cujo julgamento é feito pela Corte Penal Internacional, baseia-se no fato de Bolsonaro ter desestimulado a aquisição e o uso de vacinas para conter a pandemia, apostando na imunidade de rebanho e no uso de medicamentos ineficazes. Como os governistas poderão dizer que isso é mentira se o presidente usa seu espaço de comunicação com o público para dizer que as vacinas provocam Aids? Se ele mesmo se recusa a tomar vacina? Se, diante das barbaridades ditas pelo presidente, o Brasil é o segundo país no mundo com mais mortes pela covid-19, perdendo apenas para os Estados Unidos, a matriz de tal negacionismo com Donald Trump e os seus seguidores?

Bolsonaro, assim, confessa o crime que a CPI da Covid lhe imputa. Talvez porque julgue que nada disso tenha maiores consequências. A inconsequência faz parte do seu método, como fazia parte do método de Trump. A inconsequência é parte do método dos populistas da nova direita.

Nas várias estratégias diversionistas que Bolsonaro trouxe para a política copiada de métodos militares na cartilha imaginada por Steve Bannon está produzir absurdos que desviam a atenção das pessoas dos problemas reais. Bolsonaro faz isso desde o vídeo do “golden shower” no carnaval do seu primeiro ano de governo. Ou antes. Tais tolices provocam a atenção do público, geram reações e ataques, que desviam o foco dos problemas de um país que por pouco não perdeu oficialmente na semana passada seu ministro da Economia, Paulo Guedes, embora o tenha perdido na prática, já que o abandono da política de responsabilidade fiscal é tudo o que Guedes prometeu que não faria.

O que talvez Bolsonaro não tenha percebido – e Trump provavelmente também não percebeu antes – é que a pandemia da covid-19 é coisa muito mais séria e trágica que um vídeo pornô de carnaval. Ao mentir sobre ela, Bolsonaro colaborou para a morte de pessoas. Colaborou para aumentar riscos para todo o planeta. Colaborou para comprometer a economia do seu país, ao contrário do seu discurso de preocupação com ela.

O relatório da CPI está aprovado. Veremos agora que consequências ele terá tanto nos tribunais internos quanto nos internacionais. O que precisamos mesmo saber é se as coisas contidas no texto escrito pelo senador Renan Calheiros – e reforçadas a todo momento pelas falas e ações de Bolsonaro – importam mesmo aos brasileiros. Até outubro do ano que vem, saberemos.

Fonte: Congresso em Foco

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