A canonização ocorre nove anos após o colegiado de
cardeais e bispos da Congregação para a Causa dos Santos, da Cúria Romana,
atestar o primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce descrito no processo de
beatificação da religiosa iniciado pela Arquidiocese de São Salvador da Bahia.
A decisão do colegiado é baseada em avaliação de peritos de saber científico
(como médicos) e teólogos.
O milagre que levou à beatificação foi a intercessão da
freira, a pedido de orações de um padre, para salvar a vida de uma mulher que
deu à luz a um menino e estava desenganada por causa de uma hemorragia depois
do parto, que os médicos não conseguiam conter. O caso ocorreu nove anos após a
morte de Irmã Dulce (2001), em uma cidade do interior de Sergipe.
Para a canonização, a Constituição Apostólica exige a
comprovação de um segundo milagre e semelhante ritual processual e
comprobatório. A segunda graça, conforme publicado pela Arquidiocese de
Salvador, foi a recuperação da visão do músico e maestro José Maurício Bragança
Moreira, após 14 anos sem enxergar por causa do glaucoma.
“Eu fui paciente de glaucoma muito grave que me cegou
durante 14 anos. No dia do milagre, 10 de dezembro de 2014, o meu coral ia
cantar, mas a minha esposa nem me deixou sair de casa por causa do derrame que
eu tive nos olhos devido a uma conjuntivite viral. Eu passei a noite sem
conseguir dormir e por volta das 4h eu peguei a imagem de Irmã Dulce, que fica
na cabeceira da minha cama, a coloquei nos meus olhos e pedi que ela aliviasse
a minha dor”, descreve Moreira em relato publicado pela Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
De acordo com o músico, após colocar o santinho impresso
sobre os olhos, sentiu sono e adormeceu. “Quando eu acordei de manhã, a minha
esposa me deu umas compressas de gelo e foi quando eu comecei a enxergar o gelo
e a ver a minha mão, e aos poucos a visão foi voltando. O momento que começou o
retorno da visão foi pouco tempo depois da oração. É um milagre”, afirma. Após
o reconhecimento do milagre pela Igreja, o Papa Francisco anunciou a
canonização de Irmã Dulce.
A vocação religiosa de Irmã Dulce é revelada ainda na
adolescência sob influência de uma tia paterna. Ela tornou-se freira no começo
da década de 1930 pela Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada
Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão (Sergipe).
Formada como professora, teve como primeira missão
ensinar a crianças em colégio de sua congregação em Salvador. A vocação para as
causas sociais teve início naquela década quando passou a prestar assistência à
comunidade pobre de Alagados, e a participar da União Operária São Francisco.
Em 1937, funda o Círculo Operário da Bahia, juntamente
com Frei Hildebrando Kruthaup. Em 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo
Antônio, escola comunitária voltada para operários e filhos de operários.
Dez anos depois, ocupa um galinheiro ao lado do Convento
Santo Antônio de Salvador para acolher 70 doentes. Em 1959, é instalada
oficialmente as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e no ano seguinte é inaugurado
o Albergue Santo Antônio.
O Santuário de Irmã Dulce, em Salvador, ao lado da sede
das Osid permaneceu aberto durante toda noite de sábado (12) e a madrugada de
domingo para a vigília à espera das canonizações que o Papa Francisco presidirá
no Vaticano.
Junto com a santa brasileira, foram canonizados os beatos
John Henry Newman (1801-1880), cardeal, fundador do Oratório de São Filipe Néri
na Inglaterra; Giuseppina Vannini, Madre Josefina (1859-1911), italiana,
fundadora das Filhas de São Camilo; a Maria Teresa Chiramel Mankidiyan
(1876-1926), indiana, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família; e
Margherita Bays (1815-1879), suíça, da Ordem Terceira de São Francisco de
Assis.
A primeira missa em honra à Santa Dulce dos Pobres
ocorreu em Roma na igreja San't Andrea della Valle, segunda-feira(14), 24
horas depois da canonização. No dia 20 de outubro, domingo, em Salvador, haverá
a celebração pela canonização da Santa. Será no estádio de futebol Arena Fonte
Nova, com abertura dos portões ao meio-dia. Os ingressos gratuitos estão à
disposição nas diversas paróquias da Arquidiocese de Salvador e começaram a ser
distribuídos no início deste mês.
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