O vice-presidente Michel Temer enviou uma carta ontem à
presidente Dilma Rousseff na qual relata uma série de episódios que
demonstrariam a falta de confiança que sempre existiu dela em relação a ele e
ao PMDB. O gesto foi visto pelo Palácio do Planalto como um passo do vice em
direção ao rompimento com o governo.
No documento, de três páginas, Temer afirmou que ele
sempre se colocou à disposição de Dilma e trabalhou para que o PMDB apoiasse a
sua reeleição no passado. Ele lembrou que o partido só se manteve na chapa
porque ele liderou o movimento pró-Dilma na convenção da sigla.
O vice também disse não concordar com o fato de Dilma ter escolhido o líder do
PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), como interlocutor e responsável por
indicar os nomes que vão compor a comissão especial que vai analisar o pedido
de impeachment. “Falar com o PMDB através do Picciani não é correto, já que
Temer é o vice-presidente da República e presidente do partido”, disse um
interlocutor do peemedebista.
Após vir a público parte do conteúdo da carta, a assessoria de imprensa do vice
confirmou a existência do documento no Twitter. Em uma sequência de nove
mensagens, a assessoria fala da questão da confiança, mas nega que ele tenha
proposto rompimento com o governo.
“Ele rememorou fatos ocorridos nestes últimos cinco anos, mas somente sob a
ótica do debate da confiança que deve permear a relação entre agentes públicos
responsáveis pelo país”, diz o comunicado. Ontem, antes de um dos principais
aliados de Temer, Eliseu Padilha, oficializar a sua demissão da Secretária de
Avição Civil, Dilma tentou minimizar o desembarque do PMDB do governo e
distanciamento entre ela e seu vice, voltando a repetir que sempre confiou em
Temer. "Não só confio como sempre confiei", afirmou.
Por ser advogado, o Planalto chegou a cogitar que Temer poderia se envolver
diretamente na defesa do mandato de Dilma. Entretanto, assim que foi deflagrado
o processo de impeachment, na última quarta-feira, os dois tiveram apenas um
rápido encontro e o vice descartou participar formalmente da defesa.
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