Olho D'água do Borges/RN -


Ao chegar ao Congresso Nacional para ser empossada para o novo mandato, a presidente reeleita Dilma Rousseff foi prontamente recebida e rodeada por deputados, senadores, aspirantes a ministros e os famosos caciques do PMDB. A foto acima, registrada após a petista ter subido a rampa do Legislativo, é apenas uma amostra da realidade que se instalou no dia 1º de janeiro – nela, estão três autoridades do partido, o vice-presidente, Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves. Na imagem, todos parecem unidos em torno de um projeto de governo conjunto. Mas, na prática, o clima no maior aliado do Palácio do Planalto é de guerra. Em disputa, está o tradicional apetite dos grãos-peemedebistas em ampliar poder e nomear apadrinhados para autarquias, estatais e superintendências regionais.

No xadrez da reforma ministerial, o PMDB faturou seis das 39 pastas loteadas na Esplanada. A neopeemeedebista Kátia Abreu, boicotada pelo partido em sua posse, é de uma cota à parte. Rachada, a sigla teve de se contentar com as inexpressivas secretarias de Portos, Pesca e Aviação Civil, além de uma pasta apenas de porte médio, como o Ministério do Turismo. Foi reduzido a um “partido de secretarias”, como resumiu o presidente do Senado, Renan Calheiros. A exceção é o poderoso Ministério de Minas e Energia, que apenas mudará de mãos: sai Edison Lobão (MA), e entra Eduardo Braga (AM).

Não é novidade que o PMDB é conhecido no mundo político por queixar-se eternamente da falta de espaço no Executivo. Não seria exagero afirmar que, entra governo, sai governo, e o apetite dos peemedebistas por cargos é cada vez mais notório. Essas disputas entre correligionários do PMDB, longe de garantir estabilidade ao Executivo e ao Congresso, transformaram a presidente Dilma em uma espécie de refém do partido, sendo colocada contra a parede pelo aliado ao menor sinal de insatisfação da sigla.

Nem bem tinha assumido o novo cargo de ministro da Aviação Civil, o deputado Eliseu Padilha já tinha dado sinais de que devia a indicação essencialmente ao vice-presidente, Michel Temer. “Sou inteiramente comprometido com as diretrizes do governo, mas serei cumpridor dos interesses do meu partido”, resumiu Padilha.

O fisiologismo do PMDB coloca diariamente o ego de deputados e senadores à prova e já foi até responsável pela criação do jargão político “a qual PMDB se refere?”. “Somos um partido em que o sujeito já entra major. Todo mundo tem opinião, dissidência, grupo. Normalmente está sempre dividido, mas na hora das dificuldades e desafios sabemos politicamente nos unir”, resumiu o ex-ministro Moreira Franco.

São inúmeros os exemplos da guerra fratricida entre os peemedebistas: Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira (CE) disputam palmo a palmo a indicação para a presidência do Senado, o mesmo Renan duela com Jader Barbalho (PA) pelo controle da Transpetro, subsidiária da Petrobras. Jader também empenha-se para abocanhar um possível espólio do senador José Sarney no setor elétrico. Já a nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu, tenta ficar com os demais cargos da pasta no segundo escalão para o desespero do PMDB de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. O onipresente Renan Calheiros ainda tenta manter o aliado Vinicius Lages à frente do Turismo e acabar com as pretensões do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), de ser nomeado para a cadeira.

No segundo escalão, PMDB e aliados também tentam a todo custo sair vitoriosos na equação por indicações políticas. O ex-ministro da Agricultura Neri Geller trabalha para assumir a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), embora o PTB assegure que recebeu garantias da presidente Dilma Rousseff para continuar no comando da autarquia. PP e PMDB se digladiam pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Denocs).

Antes mesmo da largada do novo governo, o PMDB já tinha uma lista parcial de suas ambições: além de Dnocs e Conab, quer parte do setor elétrico, Transpetro, Embratur, Infraero, INSS, Codevasf, Embrapa, Furnas, Banco do Nordeste e, claro, as presidências da Câmara e do Senado.





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